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A Cultura não é ficção

Que novela está virando essa pasta da Cultura no governo Bolsonaro. Embora fazer arte envolva muito a ficção também, quando se trata da Cultura de um país, principalmente, da  responsabilidade que é ocupar um cargo de gestão pública, a importância dela é real, muito real.

Faz tempo já que a Cultura não pode mais ser considerada apenas do ponto de vista antropológico e sim, também, como uma engrenagem imprescindível para contribuir com o  desenvolvimento de um país, pois, além de estar ligada à história de um povo, de promover o bem-estar, ela gera EMPREGO e RENDA..

No Fórum Econômico Mundial, em Davos, a Cultura deveria fazer parte da pauta de discussão entre os países, especialmente, estar entre os assuntos abordados pelo nosso MInistro da Economia, Paulo Guedes, devido à grandiosidade da diversidade cultural do Brasil e da RIQUEZA que é a criatividade do povo brasileiro. Porém, no Brasil, a Cultura perdeu o status de Ministério e teve o orçamento - que já era pequeno - reduzido. E Guedes acabou levando como foco do seu discurso a pobreza...

As indústrias criativas são lucrativas e geram recursos para a Cultura e para outras áreas também, com toda certeza, isso se no comando houver uma boa gestão e um governo que entenda que a Cultura não é gasto, é INVESTIMENTO.

O programa Globo News em Movimento, na terceira temporada, mostrou a importância da arte no dia a dia do povo brasileiro e o quanto ela contribui para melhorar a qualidade de vida das pessoas, transformando vidas sim e o local que se vive. Fernando Gabeira em seu programa de TV, recentemente, também mostrou a importância da arte no desenvolvimento da cidade de Gramado (RS) e da região. Somente na realização do Natal Luz, num período de 80 dias, são envolvidas no trabalho de produção mais de 2.000 pessoas, sem contar as contratações que acontecem em bares, restaurantes, hotéis e no comércio em geral.

No final de 2018, houve em São Paulo um grande encontro sobre economia criativa, o Mercado das Indústrias Criativas do Brasil (MicBR), e lá a Fundação Getúlio Vargas (FGV) apresentou o programa Rio de Janeiro a Janeiro, para o qual foi desenvolvida uma metodologia que permite mensurar dados e comprovar o retorno financeiro de um evento cultural. Conforme exposto, foram selecionados 154 projetos em 2018, que tiveram impacto de R$ 13,2 bilhões e geraram 351 mil postos de trabalho. Cada real investido em eventos do programa Rio de Janeiro a Janeiro resultou em um retorno de R$ 13.

Neste mesmo evento, MicBR, Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural, fez uma comparação interessante. Segundo ele, a indústria automobilística recebe do governo cerca de R$ 7 bi de recursos provenientes de isenções fiscais, sendo responsáveis por 4% do PIB. As indústrias criativas recebem R$ 1,3 bi de incentivo fiscal e responde por 2.6% do PIB. Imagina o potencial da Cultura se recebesse cinco vezes mais?

Focando só no Estado de São Paulo, a FGV realizou uma análise dos impactos econômicos e sociais do ProAC-SP, que é a Lei Estadual de Incentivo à Cultura. Como base dos estudos, foram analisados 2.528 projetos premiados pelo ProAC Editais e ProAC ICMS, entre os anos de 2013 e 2017. De acordo com os resultados da pesquisa, considerando toda a cadeia produtiva:

- Os investimentos do ProAC Editais nos últimos cinco anos geraram 1.605 empregos e aumentaram o PIB em R$ 131,9 milhões. 

- O impacto direto sobre a economia paulista do ProAC ICMS gerou mais de três mil postos de trabalho e significou um PIB de R$ 223 milhões, além de R$ 67,5 milhões de arrecadação.

- Os investimentos retornaram R$ 93,6 milhões para os cofres públicos.

Alguém ainda tem coragem de falar que Cultura é gasto? Acrescente ainda o impacto positivo da Cultura na vida das pessoas, o quanto ela contribui para o bem estar e a saúde física e mental. Existem vários estudos sobre a arteterapia, inclusive, que podem ser vistos pela internet. E na área da segurança, onde a arte é usada no combate à violência? E na educação? O valor é incomensurável…

Fazer a gestão da Cultura, envolve, além de discutir políticas públicas para a democratização do acesso, pensar também nela como uma engrenagem essencial para fazer o Brasil crescer social e economicamente e, ainda, em saber como lidar com quem faz arte, que são, em sua grande maioria, pessoas críticas e criativas. Unanimidade não existe na Cultura. Aliás, não era Nelson Rodrigues que falava que ”toda unanimidade é burra”? Direita e esquerda existem sim, isso é democracia, mas o foco do gestor público deve ser sempre a CULTURA, na sua essência e em tudo que ela representa para o país e o seu povo.

Nossa torcida é para que o novo gestor ou gestora, caso a Regina Duarte aceite se “casar”,  tenha esse olhar amoroso, porém, crítico, criativo e REAL para nossa Cultura.

 

 

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